Amar as letras estava entre as paixões do homem que se alfabetizou só aos 18 anos

Especial Chico Mendes

Publicado em 22/12/2018 - 09:18 Por Renata Martins - Brasília

Trinta livros ficaram na pequena estante da sala de Chico Mendes. Estão lá: Jorge Amado, José Potyguara, Rousseau, Padre Antonio Vieira, Kant, José Bonifácio, Castro Alves e Marechal Deodoro.

 

Por eles é possível identificar a diversidade da leitura do ambientalista e os um dos seus temas preferidos: a história do Brasil. Há uma coletânea inteira sobre o período da República brasileira, entre os livros daquele homem que só se alfabetizou aos 18 anos.

 

Chico Mendes relatava que o “ABC” das crianças da floresta era pegar uma lâmina e aprender a sangrar a seringueira. Para ele, os patrões não tinham interesse na alfabetização nem dos seringueiros nem de seus filhos. Os primeiros, para que continuassem a ser enganados nos pagamentos, os outros, para que pudessem ajudar os pais na extração da borracha.

 

Um projeto do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) espalhou uma rede de escolas nos seringais do Acre, sem ajuda do Poder Público, na década de 1980.

 

Em entrevista divulgada pelo programa Memória Brasil, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Chico Mendes fala sobre o projeto seringueiro.

 

Sonora: “Nós iniciamos um trabalho de educação popular nos seringais na década de 80, baseado na metodologia de Paulo Freire, e conseguimos criar a cartilha chamada Poronga, o aparelho que o seringueiro usar de noite para iluminar seu caminho. Daí o nome. O seringueiro vai, assim, aprendendo, como também a iluminar a floresta.”

 

O professor Raimundo Graciano lembra que Chico Mendes estava no primeiro dia de aula da escola onde estudou e onde atualmente dá aulas. A Escola Estadual Rural União, fica dentro do seringal que, hoje, faz parte da Reserva Chico Mendes.

 

Sonora: “Primeiro dia de aula, era uma casinha de palha, pisava no barro, no primeiro dia, ele estava presente.”

 

Tião Aquino, formado em matemática, atualmente diretor da cooperativa dos extrativistas do Acre foi aluno do projeto.

 

Sonora: “Eu fui a escola pela primeira vez aos 14 anos de idade. Tive o privilégio de ir além da alfabetização, chegar até o nível superior e até uma pós-graduação. Ser um extrativista pós-graduado.”

 

As unidades educacionais ganharam estrutura e foram incorporadas à rede estadual de ensino. A Escola União tem salas de aula, banheiros e refeitório. As crianças convivem com animais de criação como patos e galinhas e toda a fauna e flora da floresta Amazônica.

 

Mas o professor Graciano lamenta que, atualmente, pouco se fala em Chico Mendes na sala de aula.

 

Sonora: “Sempre ensino a eles quem foi Chico Mendes. Que sem eles não teríamos essa nossa educação. Mas hoje não temos disciplina que ensina quem é Chico Mendes. Se o professor não sabe, isso não é repassado.”

 

Eu conversei com alguns alunos, não sei se por timidez ou desconhecimento, eles pouco falaram sobre o ambientalista, mas destacam que ele ajudou a comunidade, a preservação da floresta. Apesar da pouca informação sobre o herói dos seringueiros, seu legado está mais do que consolidado na cabeça das meninas e meninas com quem falei na Escola União: todos falam como é bom estudar ali.

 

 

*Sonoplastia: José Maria Pardal

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