Especial mostra a rica cultura dos povos indígenas de São Paulo

São Paulo era conhecida como o “local onde os espíritos se banham”

Publicado em 22/01/2024 - 07:15 Por Nelson Lin - Repórter da Rádio Nacional - São Paulo

Cidade fundada por Jesuítas em 1554, São Paulo tem uma história e cultura rica dos povos indígenas que viviam antes da colonização. Uma das marcas disso estão em nomes de ruas e locais de diversos pontos da cidade: Ibirapuera, Pacaembu, Anhanguera, Tamanduateí. Viviam aqui no estado diversas etnias indígenas, como os Tamoios, Guaianás, Kaigan, Carijós, Xavantes, Guarani Mbya. E muitas dessas etnias foram extintas após a colonização.

Para os Guarani Mbya, a região da cidade de São Paulo era conhecida como Nhe’Ery, que significa “local onde os espíritos se banham”. No menor território indígena do país, situado aqui na cidade de São Paulo, o TI Jaraguá, os líderes da comunidade Tekoa Pyau, Natalício Karai e Claudio Verá falaram conosco de suas historias e cultura.

O território indígena do Jaraguá tem uma extensão de menos de 2 hectares e a comunidade indígena aguarda desde os anos 80 a homologação de um território maior de 530 hectares. Nesses protestos, os Guarani Mbya chegaram a fechar duas rodovias próximas da aldeia: a rodovia Bandeirantes e a rodovia Anhanguera e ocuparam também a área da antena de transmissão de diversas emissoras de TV e rádio, que fica no Pico do Jaraguá.

Dentro da casa de reza, Natalício já começou lembrando de uma grande diferença cultural entre os Guarani Mbya e os não indígenas. O contraste da correria urbana dos não-indígenas e do momento de respiro. E calma para acender o seu cachimbo. Pausa para uma reflexão antes dele começar a compartilhar seu conhecimento. 

Natalício Karai.

São Paulo (SP), 15/01/2024 - Claudio Vera, uma das lideranças da terra indígena Tekoa Pyau, fala com a imprensa na casa de reza da aldeia, no Jaraguá. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 15/01/2024 - Claudio Vera, uma das lideranças da terra indígena Tekoa Pyau, fala com a imprensa na casa de reza da aldeia, no Jaraguá. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil - Rovena Rosa/Agência Brasil

Era maravilhoso. Eu gostava mais de viver na mata mesmo. Onde eu morava, onde eu nasci, tem uma mata bem fechada mesmo, onde tem caça, tem fruta, tudo isso. Então, a minha vó, a minha mãe, me ensinava como que pegava fruta. A fruta que vem da mata é vitamina. Sempre falava isso, né? Que é saudável. E sempre nós plantava planta mesmo, a gente não plantava assim pra vender e ganhar dinheiro com essas coisas. Não.

Cláudio Vera.

Começou o centro da terra, pra visão do Guarani, é no Paraguai, aonde tudo começou. Por isso, que hoje se fala muito dessa palavra em busca da terra sem mal. Então por isso que o Guarani ele sempre caminhava nesse centro, né? Em busca da terra sem mal. O Guarani sempre foi um povo de muitas caminhadas. Por isso que a gente chama de Guataporá, é uma boa caminhada.

Era tudo lixo, né? E eu acompanhei desde o começo. Não foi fácil pra nós manter esse tecoar, essa aldeia. É uma tristeza lembrar, desse tecoar. Pra nós se manter até hoje. Então, por exemplo, a gente luta por um espaço, né? Não é que eu vou fazer um lote pra vender pro outro parente. Então é um espaço coletivo. Coletivo, né? Então aqui nesse espaço pode vir um Guarani do Paraguai, pode vir um Guarani lá da Argentina, pode vir um Guarani da Bolívia, pode vir um Guarani lá do Uruguai. Ele sempre vai ter seu espacinho ali. Ele vai construir sua casa, vai ficar ali naquele cantinho. No dia que ele for embora de novo, aquela casinha fica pra outra família, que vem de outros lugares. 

Se a gente não existisse, os povos indígena, hoje esse pico do Jaraguá já não existiria mais não. Porque nós protegemos a natureza. Por exemplo, estão vendo esse parque, os mato que sobrou um pouquinho, a natureza, é proteção nossa. Se não existisse nós aqui no Jaraguá, esse espaço só estaria tudo virado cidade.

A cidade de São Paulo foi construída no cemitério indígenas, né? Por isso que hoje, nós aqui, na comunidade, dificilmente a gente sofre quando acontece temporais, quando tem ventania, a gente se sente protegido, a gente quando vê essas coisas a gente fica alegre, né? Porque faz parte da natureza.

Mas aqui na cidade de São Paulo a população, a sociedade conhece o bandeirante como herói. E pra nós ele não é um herói. É um ser que matou bastante, né? Ele quase dizimou nosso povo. Na verdade, eles dizimaram alguns povos que moravam aqui. 

Não queremos assim uma área pra destruir. Nós queremos uma área pra viver em paz, com nossas crianças, com nossos netos. Isso que a gente quer, porque nós, indígenas, somos muito pacíficos. 

Este Rádiodocumentário foi feito em parceria com o Radiojornalismo EBC e a Radioagência Nacional. Ouça os outros episódios da série sobre os 470 anos de São Paulo.

* A reportagem é de Nelson Lin, a produção de Guilherme Strozzi, coordenação de processos de Beatriz Arcoverde e sonoplastia de José Maria Pardal.

Edição: Beatriz Arcoverde / Pedro Lacerda

Últimas notícias
Geral

Corpo de indígena é encontrado com sinais de espancamento em SC

O indígena Hariel Paliano, de 26 anos, foi encontrado, no último sábado, às margens da rodovia que liga os municípios de Doutor Pedrinho e Itaiópolis.

Baixar arquivo
Esportes

Confira os resultados dos jogos de futebol do fim de semana

Nesta segunda-feira (29),  rodada do Campeonato Brasileiro da Série A, tem o clássico São Paulo e Palmeiras, às 20h. Pela Série B, teremos uma partida Mirassol e Ceará. E pelo Brasileirão feminino, a bola rola para Flamengo e Santos.

Baixar arquivo
Economia

Como reduzir o Imposto de Renda a ser pago com previdência privada?

Tira-Dúvidas do IR 2024 explica como uma modalidade de previdência privada ajuda a reduzir o valor a ser pago no Imposto de Renda. 

Baixar arquivo
Saúde

Saúde inclui pacientes de papilomatose respiratória na vacina de HPV

O Ministério da Saúde ampliou o grupo que pode receber a vacina contra o HPV. Os pacientes com papilomatose respiratória recorrente foram incluídos no grupo prioritário para a vacinação.

Baixar arquivo
Internacional

Governo português nega ter projeto para reparação de ex-colônias

O governo português negou ter processo ou programa de reparação aos países que foram antigas colônias de Portugal, segundo Comunicado oficial da Presidência do Conselho de Ministros portugueses, divulgado no último sábado (27).

Baixar arquivo
Economia

Entenda a reforma tributária sobre o consumo proposta pelo governo

O governo entregou ao Congresso Nacional nessa semana o projeto de lei complementar para regulamentar a reforma tributária sobre o consumo, aprovada em dezembro por meio de Emenda Constitucional. 

Baixar arquivo