Conheça o Akotirene, projeto que busca ampliar a participação de mulheres negras nas ciências exatas
Universo
Publicado em 15/05/2020 - 15:48 Por Apresentação de Lana Cristina - Brasília
Mulheres na ciência. Você já deve ter ouvido falar muitas vezes que é preciso aumentar a proporção feminina nesse campo ainda tão povoado por eles. E a desproporção é maior ainda nas exatas. Só pra falar de alguns cursos: geologia, engenharias em geral, farmácia, física, matemática, química e... astronomia. E como mudar isso?
Eu entrevistei a conselheira da Comunidade Quilombola Morada da Paz, a Yashodan, que significa Mãe da Unidade, na língua urubá. Ela me contou de como os quilombolas da CoMPaz Território de Mãe Preta, que fica em Triunfo, interior do Rio Grande do Sul, lidam com os astros do céu e de como é essa relação com suas atividades do dia a dia.
Também conversamos sobre como a comunidade quilombola, agora, tem a oportunidade de estudar cientificamente os corpos celestes, como são formados e quais as suas relações com a Terra. Esse estudo está sendo possível há 3 anos por meio do Akotirene Kilombo Ciência, um projeto que incentiva a presença de mulheres negras na ciência. Yashodan explica as áreas do conhecimento exploradas no projeto. E nos conta exatamente como ele é.
Sonora: “Esse projeto Akotirene Kilombo Ciência foi inspirado na pedagogia do encantamento, do orixás... onde eles são nossos professores. Recebeu esse nome em homenagem a uma grande mulher lutadora, Akotirene, que foi líder dos quilombos palmarinos, conselheira de Zumbi dos Palmares... Dentro da área das ciências exatas, o Akotirene trabalhou com dois campos muito interessantes, a etnobiologia e a etno-astrofísica.... a influência dos astros no nosso plantio... a importância da tabela periódica na hora de plantar e colher a plantação.”
Esse trabalho contou com ajuda que fez a diferença. Foi selecionado pelo Elas nas Exatas, edital que tem a parceria do Fundo ELAS, Instituto Unibanco, Fundação Carlos Chagas e ONU Mulheres.
E, como numa prova de que os círculos são a representatividade de que um movimento para o bem volta a favor de quem o iniciou, o Akotirene Kilombo Ciência não só permite que as mulheres negras do quilombo aumentem seu conhecimento sobre as estrelas, satélites e planetas, mas, também, leva, ao quilombo, a comunidade de fora para observar seu telescópio e, claro, aprender como o saber popular se funde com o conhecimento.
Sonora: “E a gente tem um laboratório... Temos um estelário... Temos um telescópio... Poder observar a lua e conversar sobre sua influência. Isso traz um empoderamento para os jovens... E já temos respostas. Já temos jovens mulheres da região que escolheram a faculdade de química, matemática, biologia”.
E não é só na ciência que moram os frutos do Akotirene. Yashodan falou sobre a discussão étnica que o projeto provocou.
Sonora: “O projeto também provocou um impacto de uma discussão étnica na ciência, a presença da população negra na ciência, sejam homens ou mulheres... Provocou diálogos no campo do gênero... no campo de revisão dos paradigmas de vida desses jovens”.
Bom, uma reflexão sobre como o saber popular se funde com o saber científico não poderia faltar. Vamos ouvir o que Yashodan tem a dizer sobre isso.
Sonora: “Repare que estando no século 21, a gente sentar com uma iabá ancestral, que é o espírito de luz de uma preta velha, e ela explicar o que é o cinturão de Órion... e isso orientar o nosso nascer, os períodos férteis da terra e das plantas... De um lado tem a ciência que diz 'como funciona isso, a intensidade do calor do sol, quantos sóis nós temos'. E, de outro lado, a preta velha dizendo a importância do sol, que a vida vem do calor, vem do fogo, com as palavras dela.... E os jovens escolhendo no Enem as ciências exatas é algo permeado de magia, de magia ancestral.”
Esta foi mais uma edição do Universo, que trouxe uma temática diferente, produzida para ilustrar o Mês da Mulher. Veio a pandemia e várias produções da Casa foram adiadas. Essa foi uma delas. O programete de hoje teve a produção de Adrielen Alves, entrevista e edição de Lana Cristina. Até a próxima edição!